São José das Piranhas, PB (AE) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, ontem, na Paraíba, que se não houver corte no orçamento para 2011, como recomendou o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), a presidenta eleita, Dilma Roussef, vai acabar tendo que contigenciar. “Toda vez que o orçamento vai para o Congresso Nacional, normalmente, os deputados querem mais verbas do que o governo previu. Muitas vezes, nós atendemos. Mas, como na realidade a prática é diferente da teoria, quando chegar um determinado mês do ano, a presidenta Dilma vai ter que fazer corte do orçamento. Vai ter que contigenciar”, disse Lula. Ele visitou o canteiro de obras da Transposição do Rio São Francisco, na Serra do Braga, em São José de Piranhas, na divisa entre Ceará e Paraíba.
ricardo stuckert/prPresidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de solenidade para entrega de títulos de casas
Apesar do ministro Paulo Bernardo (Planejamento) ter recomendado corte de R$ 8 bilhões na proposta do Orçamento de 2011, o relator na Câmara, deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), conseguiu aprovar na segunda-feira (13) à noite aumento de R$ 4,713 bilhões na previsão de receitas, na Comissão Mista do Orçamento.
Essa é a segunda atualização feita pelo deputado. Na primeira, divulgada em novembro, ele havia ampliado as receitas em R$ 17,7 bilhões. Com isso, o Congresso terá R$ 22,4 bilhões a mais para determinar gastos do que previa a equipe econômica, inflando as pressões por novas despesas e jogando para o governo a responsabilidade de fazer cortes.
Para ampliar em R$ 4,713 bilhões, Araújo prevê recebimento adicional de R$ 1,1 bilhão referente à concessão de exploração de petróleo pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) - não considera o pré-sal. Além disso, ele reestimou a previsão de royalties em R$ 1,236 bilhão e dos recursos oriundos de venda de ativos da União em R$ 2,2 bilhões. O relator também considerou a arrecadação extra de R$ 850 milhões de Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins). Por outro lado, considera ainda a perda de R$ 672,7 milhões por conta da prorrogação de pacotes de incentivo à construção civil.
Com relação à composição do ministério do novo governo, Lula disse que ela terá a cara da Dilma e que a presidenta terá facilidade em governar o país porque o projeto tocado por ele até agora tem Dilma como principal executora. “Não é projeto meu É projeto dela. Dilma terá muita facilidade. Outro dia, vi um jornalista dizer: ‘Ah, mas a Dilma está colocando muita gente do governo do Lula, Não era do governo do Lula. Era do governo dela’. Eu digo sempre o seguinte: A Dilma se reuniu mais com o Guido Mantega do que eu; ela se reuniu mais com Paulo Bernardo do que eu; se reuniu mais com a Miriam Belchior do que eu. Porque, na Casa Civil, os projetos se reuniam três ou quatro vezes antes de chegar na minha mão. Ela escolheu a turma dela”.
Perguntado se seria mais fácil mandar em mulher, o presidente Lula brincou: “Você sabe pela sua. Esse negócio de que mandar em mulher é fácil, cada um tem a sua experiência dentro de casa. A gente canta de galo na rua. Mas em casa quem manda é a mulher. E se vacilar, manda na rua também”.
Em seguida emendou: “Eu fico muito orgulhoso que depois de eleger um metalúrgico o povo brasileiro teve a coragem de eleger uma mulher. É o máximo. Se o Obama conhecesse o povo brasileiro, ele diria que o Lula não é o cara coisa nenhuma. Quem é o cara são os 190 milhões de homens e mulheres que vivem nesse país”.
Presidente faz discurso de despedida
Salgueiro, PE (AE) — O presidente Lula estendeu o quanto pôde o contato com o povo de Salgueiro, no sertão pernambucano, a 520 quilômetros do Recife, na tarde de ontem durante a entrega de títulos de cessão de uso de casas para famílias atingidas pelas obras da transposição do rio São Francisco.
Sua agenda previa a entrega de 12 dos 113 títulos de famílias do município que serão reassentadas nas Vilas Produtivas Rurais (VPR). Ele entregou mais de 80. Posou para fotos, fez afagos e conversou com cada um deles, pegou crianças no colo, colocou chapéu de vaqueiro na cabeça, mostrou sua mão esquerda - na qual falta o dedo mínimo - junto a de um trabalhador que também tem quatro dedos na mão.
A multidão que esperou para vê-lo - o presidente atrasou duas horas - o recebeu aos gritos de “Lula, Lula”, riu e acompanhou com emoção cada cena protagonizada no palco pelo presidente. “Até outro dia”, afirmou ele ao povo que expressou não o querer longe. “A luta continua e ainda temos muita coisa para conquistar nesse País”.
Sempre sob aplausos, ele disse não ter se escondido quando perdeu as eleições em 1989, 1994 e 1998. “Por que iria me esconder agora que ganhei?” observou, ao lembrar ter vencido em 2002 e em 2006 e também em 2010 elegendo sua sucessora Dilma Rousseff. “Podem ficar certos que vou continuar andando por este País, viajando, acumulando conhecimento sobre os problemas do Brasil”, afirmou.
Além de receber o título de cidadão salgueirense, o presidente Lula ganhou da representante da Associação dos Assentados do São Francisco, Maria Auxiliadora de Vasconcelos, um pote de barro, segundo ela, “para depositar a saudade que o povo vai sentir dele”.
Lula disse ter governado o País “como uma mãe” que gosta de todos os filhos igualmente, mas se dedica mais a um filho que esteja com algum problema. O Nordeste era a região que precisava mais da atenção do governo. “Há oito anos não se fala em frente de trabalho”, frisou ao lembrar da estratégia usada por governantes na época da seca, quando trabalhadores sem ter o que comer ou como viver recebiam uma ajuda financeira com trabalhos “inúteis” como “levar pedra de um canto para outro”. Confiante no desenvolvimento cada vez mais forte da região, Lula destacou ter tratado bem a todas as regiões e governadores. Exemplificou com seu opositor, o ex-governador de São Paulo, o tucano José Serra, candidato derrotado à presidência da República. Disse que em quatro anos, São Paulo recebeu mais dinheiro do governo federal sob o seu comando, do que em oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário