Seis mil e duzentas pessoas deverão ser demitidas no Rio Grane do Norte e no Ceará com a saída da Del Monte Fresh Produce Brasil do mercado internacional de banana. Principal exportadora do produto em solo potiguar, a Del Monte informou que deverá manter em torno de 700 dos 6.900 empregados no RN e CE, corte de quase 90% no número de colaboradores. O número é equivalente a três vezes e meia o total de trabalhadores contratados por todo o setor agropecuário nos dois estados, em 2013, que foi de 1.806, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho e Emprego. A empresa não detalhou em quanto tempo as demissões vão ocorrer nem o total de trabalhadores que serão dispensados apenas no RN.
No estado, a Del Monte mantém 10 fazendas na região do Vale do Açu com 1.450 hectares de área plantada. De acordo com o gerente geral da Del Monte no Brasil, Sérgio Camacho, com a mudança de estratégia, até julho de 2014 essa área para o plantio de banana será diminuída para 900 hectares, o que equivale a uma redução de 38%. Em 2013, a produção da multinacional no RN fechou em 3,5 milhões de caixas de 18 quilos de banana, sendo que 60% desse valor – 2,1 milhões de caixas – foi para o mercado externo.
Na última semana, a Del Monte já havia anunciado que deixaria de produzir para o mercado internacional. Entre os motivos apontados pelo gerente geral da companhia está a cobrança de taxa de 40% para a banana brasileira que é exportada aos países europeus, enquanto que concorrentes são isentos devido a acordos comerciais.
Sérgio Camacho acrescenta entre os fatores negativos os custos que seriam altos com insumos no RN e CE, em comparação com outros países produtores que competem com a Del Monte, além de dificuldades na liberação de agroquímicos que em outros países não são proibidos, o que gera custos maiores do que os enfrentados pelos concorrentes.
Na opinião do gerente geral, uma solução possível seria a diminuição da taxa de importação do produto, o que poderia ser viabilizado com negociações entre o Mercosul e a União Europeia. “O ambiente não é positivo. A Del Monte não pode seguir arcando com essa situação negativa. Estamos gratos por estar aqui. Não se trata de uma crítica. É uma decisão. Já estamos aqui há 12 anos e podemos dizer que é muito complicado exportar do Brasil”, afirma.
Com a mudança, a estimativa do gerente geral é que a produção em 2014 chegue a um patamar de 2,25 milhões de caixas de 18 quilos de banana no RN, que serão distribuídos para a Grande São Paulo, Ribeirão Preto, Campinas e Manaus. “Também estamos fazendo contatos para vender para a Bahia”, diz. A Del Monte planeja produzir coco nos 550 hectares que deixarão de ter bananas, ideia que ainda está em fase de estudo, segundo ele.
Impacto
Conforme o presidente da Companha Docas do Rio Grande do Norte, Pedro Terceiro de Melo, a exportação de banana da Del Monte pelo Porto de Natal envolve algo em torno de 1.080 contêineres/ano entre os 3 mil contêineres de frutas exportadas anualmente. “É um prejuízo para o porto. A banana representa 10% da exportação das frutas. Toda a perda é representativa. Temos que buscar suprir isso com outro segmento”, avalia.
O secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Silvio Torquato, explica que a banana é isenta de pagar o imposto estadual, o ICMS. “Num primeiro momento, não vejo o que fazer. É uma questão de estratégia de mercado da empresa”, explica. Torquato diz que não foi procurado. O secretário de Estado de Agricultura, Tarcísio Bezerra, também diz não ter sido procurado pela empresa.
MEMÓRIA
Não é a primeira vez que a Del Monte Brasil enfrenta problemas com a sua produção. Em maio de 2008, a produtora e exportadora de frutas anunciou a demissão de cerca de mil funcionários no Rio Grande do Norte, devido aos “inúmeros prejuízos” causados pelas enchentes no Vale do Açu, onde concentra sua produção. As demissões ocorreriam principalmente em Carnaubais e na Zona Rural de Assu.
Na época, entre as 12 fazendas da companhia, pelo menos quatro tiveram o acesso comprometido por alagamentos. E estimaram perda de metade da produção prevista para o ano, de 4,5 milhões de caixas (81 mil toneladas).
Nos últimos oito anos a empresa oscilou entre as posições no ranking de exportações no estado. A colocação mais baixa foi em 2008, no ano seguinte, se posicionando em décimo primeiro, e movimentando U$$ 14.282.680. Sendo que, desde 2010, a produtora iniciou investimento no mercado nacional, fortalecendo clientela no estado de São Paulo, onde agrupa 95% da clientela nacional.
Ano passado, a empresa não conseguiu conter a queda nas exportações no primeiro semestre. A área de plantio foi ampliada em 150 hectares, chegando a 1,4 mil apenas no estado, mas ainda assim o volume exportado foi 28% menor que o exportado no mesmo período de 2012. A razão foi a seca. O quadro fez a empresa repensar investimentos e cogitar a possibilidade de enxugar o quadro de funcionários.
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