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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

MORTOS PODEM PASSAR DE 1 MIL DO RJ

Rio (AE) - O número de mortos na tragédia da região serrana do Rio de Janeiro pode chegar a mil. Ontem, uma semana depois da maior catástrofe natural do País desde 1967, a Secretaria Estadual de Saúde já contabilizava 702 vítimas fatais. O Ministério Público do Rio conseguiu também fazer um cadastro dos desaparecidos nos municípios atingidos pelas chuvas. São 311 pessoas em quatro municípios: Teresópolis (184), Nova Friburgo (109), Bom Jardim (2), Petrópolis (16).

valter campanato/abrChuvas que caíram há uma semana no Rio de Janeiro deixaram rastro de destruição. População serrana ainda sofre com a catástrofeChuvas que caíram há uma semana no Rio de Janeiro deixaram rastro de destruição. População serrana ainda sofre com a catástrofe

Ontem voltou a chover forte em Teresópolis e Petrópolis. A Defesa Civil de Petrópolis ficou em alerta. As ruas de alguns bairros, como Bingen e Mosela, alagaram. Em Nova Friburgo, o trabalho de resgate foi intenso. Os bombeiros encontraram o corpo de um jovem soterrado na Rua Cristina Ziedi, no centro. De acordo com relatos da vizinhança, onde parte de um prédio desabou e várias casas foram soterradas, há mais 11 corpos na área.

Cabo Mendes, que trabalha nas buscas, diz que não seria possível cavar a terra com pá, dada a enorme quantidade de entulho. “É um serviço para máquina. O piloto está orientado a cavar com cuidado, para não esfacelar os corpos.” O prédio e as casas daquele trecho da rua foram interditados.

Nova Friburgo é a cidade com o maior número de mortos (334), seguida de Teresópolis (285), Petrópolis (60), Sumidouro (21) e São José do Vale do Rio Preto (2).

Uma semana depois da tragédia os sobreviventes tentam retomar a vida normal. No bairro de Jardim Salaco, em Teresópolis, a vendedora Priscila Mariano de Oliveira ainda se esforça para economizar água, caminha quase uma hora e meia pela lama para chegar ao centro da cidade e precisa cruzar o bairro para tentar carregar o telefone celular. Fora de casa desde o temporal, ela se abrigou no sítio do pai, no mesmo bairro, mas continua sem energia elétrica e sem acesso às linhas de ônibus.

“A gente fica com vela e lanterna a noite inteira, porque a luz ainda não voltou. Quem tem água na cisterna economiza e quem não tem coloca baldes na rua quando chove para tentar lavar alguma coisa. Ônibus, nem pensar - acho que não vai voltar a passar aqui tão cedo”, descreve Priscila.

Priscila relatava sua rotina enquanto um temporal voltava a encharcar Teresópolis, na tarde de ontem. Com medo de que a chuva provoque novos deslizamentos, a vendedora enumera dezenas de preocupações que ocupam sua cabeça desde o dia 12: sua família sobreviveu ao desastre e sua casa ficou de pé, mas já sabe que não pode voltar a morar no mesmo lugar; deixou quase todos os pertences para trás e tem medo de que saqueadores levem o que ficou; não tem como chegar ao trabalho, no centro da cidade, pois o acesso só é feito a pé; e precisa pedir para entrar na casa de um morador do outro lado do bairro quando precisa de energia elétrica.

“Ainda fico com medo de descer mais barreiras, atingir mais casas que por pouco não foram atingidas. Minha casa fica na parte baixa, que pode ser atingida, mas eu pretendo voltar para lá até achar outro lugar. Não tenho como abandonar tudo.”

Cidades paulistas também sofrem com precipitações

São Paulo (AE) - A Prefeitura de Cubatão, em São Paulo, pretende remover 93 famílias que vivem em áreas de risco. No sábado (15), um mutirão foi feito para atualizar cadastros e conscientizar moradores das áreas, nas encostas da Serra do Mar. As equipes conversaram com 82 famílias que moram em locais considerados de alto risco de deslizamento dos núcleos habitacionais das Cotas 400, 200, 100, 95 e Grotão e Pinheiro do Miranda. O objetivo principal foi convencer os moradores a aceitar o auxílio-aluguel de R$ 400 por mês, oferecido pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), até a transferência definitiva para um dos conjuntos habitacionais.

Também foram atualizados os cadastros de 11 famílias que residem em área de risco de inundações no Caminho dos Pilões. A administração informou que tenta incluir estas famílias no benefício do auxílio-aluguel, pago pelo CDHU.

Bairros rurais de Itapetininga, na região de Sorocaba, no interior de São Paulo, estavam isolados ontem em consequência das chuvas intensas que atingem o município. O Rio Itapetininga subiu até cinco metros em alguns pontos, deixando submersos pastos e lavouras.

No bairro do Porto, na margem do rio, dezenas de casas e ranchos de pesca ficaram sob as águas. Alguns imóveis estavam apenas com o telhado fora da água, que atingia também a copa das árvores.

Trio é preso roubando donativos

Rio (AE) - Responsável por transportar os donativos arrecadados para as vítimas das chuvas na região serrana do Rio, o motorista da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Gilson Silva do Nascimento, de 48 anos, foi preso em flagrante com o irmão Jorge Mauro do Nascimento, de 52, e um menor de 17 anos roubando parte das doações em Campo Grande na zona oeste do Rio, na noite de segunda-feira (17). Os ladrões foram surpreendidos por dois cabos do Batalhão de Polícia Rodoviária, que estavam de folga, mas notaram a movimentação suspeita e abordaram o trio. Eles descarregavam parte do conteúdo das doações do caminhão-baú da universidade para uma Fiorino, que já estava abarrotada de água mineral. Entre os itens que seriam roubados, produtos de higiene pessoal, alimentos e cobertores.

Após a abordagem, o motorista da Uerj afirmou que estava colocando no caminhão-baú os produtos arrecadados na sua rua. No entanto, ele foi desmentido pelos vizinhos. De acordo com a universidade, após deixar a instituição, no Maracanã, na zona norte, com doações, ele deveria passar no Batalhão de Polícia Militar (PM) da Tijuca (zona norte) e no Batalhão de Niterói, na região metropolitana do Rio, para coletar mais donativos e seguir para a região serrana. No entanto, o motorista foi para a Rua João Cirilo de Oliveira, em Campo Grande, na zona oeste, a cerca de 50 quilômetros da universidade e nas imediações da casa dele. Em depoimento à polícia, o funcionário disse que foi autorizado pela instituição a tomar banho, antes de seguir para a entrega das doações.

O próprio reitor da Uerj, Ricardo Vieiralves, desmentiu a versão do motorista. “Nada do que ele afirmou é verdade. Não posso demiti-lo agora, porque a Constituição diz que ele antes tem direito de apresentar a defesa. Mas, no futuro, assinarei a demissão dele com tristeza, mas com sentimento de Justiça. Ele será preso, demitido e afastado do serviço público para sempre. Conseguimos pegar um pilantra”, afirmou. Segundo Vieiralves, o motorista era funcionário da Uerj há dez anos e não tinha qualquer falta grave em sua ficha. Um inquérito administrativo foi aberto na Uerj e pode resultar na demissão do acusado.

O reitor também ressaltou que a universidade continuará recolhendo e entregando as doações.

Não há casas para desabrigados

Rio e Teresópolis (AE) - Os 1.280 desabrigados de Teresópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, terão dificuldades para conseguir um novo teto: segundo dados da prefeitura, já havia um déficit de mil residências mesmo antes da tragédia. Uma visita a imobiliárias da cidade mostra que não há imóveis vazios em quantidade suficiente para atender aos flagelados. Para agravar a situação, tampouco existe oferta de terrenos seguros para a construção de novas moradias.

Os desabrigados ainda estão sendo cadastrados - até porque continua chovendo. Mas a prefeitura já foi autorizada pela presidente Dilma Rousseff a fazer o pagamento de 2,5 mil aluguéis sociais, cada um em torno de R$ 400,00 a R$ 500,00 mensais, até que sejam construídas casas populares.

Nos cálculos de corretores experientes, como José Ubirajara Santiago, que há mais de 30 anos comanda a Santiago Imóveis, em toda Teresópolis devem estar disponíveis no máximo 600 imóveis para aluguel. Desses, somente 20% se encaixariam na faixa de preço até R$ 750,00. “Eles não terão onde morar”, prevê Márcia Regina, da Administração e Empreendimentos Imobiliários, concorda, e prevê que, diante da demanda, haverá aumento nos valores dos alugueis.

Uma saída vislumbrada pelo governador Sérgio Cabral (PMDB) é assentar os moradores em cidades vizinhas - o que, naturalmente, desagradaria a quem trabalha e tem toda sua vida em Teresópolis. “É melhor alugar em outra cidade do que a pessoa ficar desabrigada, ao léu.”

Ontem, Cabral sobrevoou a região serrana com os ministros da Defesa (Nelson Jobim), da Integração Nacional (Fernando Bezerra) e da Justiça (José Eduardo Cardozo). Cabral informou que solicitou ao governo federal que aumente o valor pago às empresas que constroem casas pelo projeto Minha Casa, Minha Vida, para estimulá-las a construir na região. O valor de cada moradia passaria de R$ 46 mil para R$ 52 mil.

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