O desabastecimento das unidades de saúde da rede estadual do Rio Grande do Norte está comprometendo os atendimentos e cirurgias realizadas nos hospitais públicos e colocando a vida de pacientes e dos próprios profissionais em risco. Médicos e enfermeiros denunciaram nesta quarta-feira (19) que a falta de medicamentos e de materiais essenciais para os procedimentos atingiu um nível crítico, a ponto de algumas cirurgias não serem feitas porque não havia gorros, protetores de pés e luvas descartáveis no Hospital Walfredo Gurgel, que atende uma média mensal de 21 mil pessoas.
“Vivenciamos hoje um descalabro na saúde, uma situação de desabastecimento gravíssima. Hoje mesmo não há máscara ou luvas descartáveis, antibióticos, analgésicos e outros itens essenciais para o funcionamento básico do Walfredo, por exemplo. É uma situação extremamente grave, considerando que temos tido um aumento de óbitos por causa do crescimento do índice de infecção hospitalar. Mas ele também é uma vítima em potencial do subfinanciamento e da crise gerencial do sistema. Ontem, uma colega de trabalho doou luvas para que os companheiros pudessem trabalhar com um mínimo de segurança”, afirmou o médico intensivista Sebastião Paulino.
Trabalhando na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Walfredo Gurgel, ele disse que a situação de falta de medicamentos e insumos hospitalares chegou ao nível máximo, fazendo com que os conselhos e entidades de classes como o Conselho Regional de Medicina (CRM) ingressassem com ação na justiça para que as unidades de saúde fossem reabastecidas, com sentença desfavorável ao Governo do Estado. E que os servidores esperam que o executivo cumpra a sentença judicial.
“A medicina praticada hoje nos hospitais do Estado está abaixo do razoável em decorrência dessa crise sem fim. Atuamos em condições adversas, sem ter equipamentos para nos protegermos e aos próprios pacientes, em uma insalubridade acentuada, já que o índice de infecção hospitalar aumentou e oferece perigo aos servidores. Nunca vivemos uma situação dessas e o pior é que não sabemos como serão as próximas semanas. Precisamos de uma medida de caráter emergencial, uma intervenção urgente, para que mais pessoas não paguem com a própria vida por tudo isso. É lamentável”, desabafou Sebastião, que já foi diretor geral do Walfredo Gurgel.
Para o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed), Geraldo Ferreira, o problema não é falta de dinheiro como o alegado pelo executivo estadual, mas sim compromisso e descaso com a saúde pública. Ele disse que na próxima segunda-feira (24), haverá uma audiência pública na Câmara Municipal de Natal para denunciar, mais uma vez, o caos vivenciado hoje na saúde e os riscos que isso vem causando à população que necessita dos serviços.
“Há uma série de denúncias feitas pelos sindicatos e o próprio CRM sobre isso, pedimos o empenho do secretário de Saúde, mas vemos que há um grande descaso mesmo. Enquanto isso, vivemos com os riscos iminentes que essa situação de colapso oferece e que nos são reportados diariamente pelos servidores, tanto da Capital como dos municípios do interior, onde a situação é ainda pior, porque está longe dos holofotes”, disse.
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