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terça-feira, 24 de abril de 2012

Um Natal que não existe mais na visão de um saudosista


Vernissage será nesta quinta-feira, 26 de abril, às 19h, na Pinacoteca do Estado


Uma Natal que só existia em fotografias desbotadas ou então na memória dos que viveram pelas ruas arborizadas no início do século 20 se transformou numa coleção de coloridas 80 telas em acrílico sobre vinil, na visão do pintor e trovador, Pedro Grilo. A versinage da exposição "Grilo Borratela" será nesta quinta-feira, 26 de abril, no Palácio Potengi - Pinacoteca do Estado, a partir das 19h e a visitação poderá ser feita até o dia 26 de maio.



Retratar e eternizar Natal desde a sua fundação até os anos 1950, segundo o artista conta, começou quando um colega lhe apresentou umas quatro fotografias antigas do bairro das Rocas, com baixíssima definição, com a sugestão de que ele as imortalizasse em telas. "Elas estavam muito desbotadas, havia muitos clarões nelas", explica ele, cujas lacunas visuais serviram como impulso criativo para buscar na imaginação uma Natal - que ele viveu e foi muito feliz -  e preencher nesses clarões o que sua memória evocava.



Grilo, como é mais conhecido, se considera um "borrador de telas", dispensando a vaidade ou pompa da nomenclatura artista plástico. Porém, as cores, a perspectiva e a forma como trabalha luz e sombra nos seus trabalhos, revelam um artífice rebuscado e detalhista. Para cada uma das 80 obras, ele dedicou de três a mais dias de trabalho. "Trabalhava muito à noite", revelando que sempre foi mesmo noturno e acrescentando uma receita que lhe dá energia no alto dos seus 75 anos: "Todos os dias como farinha de linhaça, de guaraná, castanha, gergelim e amendoim, num mingau de aveia. É a minha receita de energia".



Muitas das ruas e prédios pintados por Grilo já sofreram tantas modificações ou deterioração do tempo que alguns monumentos agora só figuram em suas telas: "Natal hoje está mutilada", lamenta ele, continuando: "Alguns prédios nem existem mais. Por exemplo, o Beco da Quarentena; o Quartel do Batalhão, que fica em frente à Receita Federal, na Ribeira, está em ruínas; a Coluna Capitolina, não está mais no seu local de origem; o Canto do Mangue, que era uma praia linda, hoje sofreu modificações terríveis; a Capelinha (primeva) de Santos Reis, também não mais existe; o logradouro do Baldo não mais existem", registra ele, admitindo-se um "saudosista" da Natal que ele viveu na mocidade. 



"A Praça Augusto Severo era um verdadeiro bosque e a ponte que nela tinha, não existe desde que construíram a antiga rodoviária. Tenho várias outras saudades: do Coreto, do Marco que ficava vizinho a ele, do chafariz, do tabuleiro da baiana e até mesmo de um pé de acácia que foi arrancado, que se enchia de uma cor dourada, no entardecer. Isso tudo guardei na memória e ainda hoje amo", revela.



Grilo é natural de Natal, passou um período em Goianinha morando com a avó e, aos sete anos retornou para Natal, onde vive até hoje. "Morava no Areal, onde era só areia", brinca ele. Diz que "esse rapaz (apontando para o computador) lhe surrupiou a possibilidade de trabalho, já que abria letreiros em veículos, portas de vidro das lojas, fachadas e até mesmo outdoors. Atualmente mora em Areia Preta, que ele chama de "Guanabara". É autodidata no ofício do desenho e da pintura e diz que não segue nenhuma escola artística:"Não sou copiador de ninguém. Meu trabalho não é pior nem melhor do que os demais. É apenas uma questão de estilo próprio", encerra.

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