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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Estudante de Medicina posta em seu face a falta de estrutura que os médicos tem para trabalhar no Walfredo Gurgel

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Algumas vezes eu vou ao Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel (HMWG), acompanhar o plantão noturno da ortopedia, atividade realizada pela Liga Acadêmica de Ortopedia e Traumatologia, da qual faço parte. O HMWG é o hospital de referência em trauma no nosso estado. Ainda assim, o que tenho visto é apenas a piora de um quadro que já estava péssimo.

No quarto ano do curso, estou apenas começando meu caminho na medicina. Não conheço o SUS de outros estados. Mas não preciso saber disso para reconhecer o caos que nossa saúde se encontra, nem para me revoltar por todos que de alguma forma estão submetidos a esse sistema: equipe de saúde, funcionários, pacientes, familiares, todos.

Em um dos dias em que fui ao Walfredo, vi que das muitas cirurgias ortopédicas que precisavam ser realizadas, a maioria não foi, ficou esperando. Fraturas (expostas e fechadas), reduções que deveriam ser feitas em centro cirúrgico. Um dos pacientes, uma criança com uma fratura no antebraço, desceu do centro cirúrgico sem ser operado, pois lá estava em jejum, em uma maca. Sem previsão para o procedimento, foi acomodado no setor de pediatria para ficar esperando lá.
Outros tantos nem chegaram a subir para o centro cirúrgico. Uma senhora idosa, por exemplo, com metástase óssea, com uma fratura no úmero. Chegou lá acompanhada da filha. A redução da fratura precisou ser feita no politrauma, sem anestesia.

O paciente com lesão no pé precisou chegar ao setor de ortopedia pulando, porque a cadeira de rodas que ele ocupava estava quebrada.
No corredor do hospital, tem pessoas dormindo em macas, cadeiras de plástico, no chão.
Os procedimentos são feitos do jeito que dá, com o que tem.
Eu estou falando aqui casos que são o cotidiano de quem já tem mais experiência. É o mínimo. Acontecem coisas muito mais graves nos hospitais do SUS. E eu estou falando de um hospital de referência, em uma capital, que por sinal vai ser uma das cidades a sediar a copa. Quem for andar pelo interior do estado vai ver situações muito piores.

Do que adianta colocar 5 ortopedistas de plantão à noite na ortopedia, se eles não tem condição de trabalhar?

Eu não sou de ficar fazendo essas coisas, escrevendo assim para publicar. Mas essa situação me deixa indignada a tal ponto que eu quero que todo mundo saiba como DILMA e ROSALBA tratam sua população. Como o país que vai ser sede de uma copa do mundo e dos jogos olímpicos cuida da saúde do seu povo. E você, que julga médico que não quer ir para o interior ou trabalhar no SUS, acabe seu plano de saúde e dependa 100% da saúde pública. Aí talvez você comece a entender alguma coisa.

***Essas fotos foram tiradas na madrugada do último domingo (27/04), quando eu estava acompanhando um dos ortopedistas de Plantão no Walfredo. Percebe-se muito claramente que o apoio da maca do paciente é um pedaço de caixa de papelão, mas a sala de cirurgia está equipada com um Mac.

Fonte: Facebook

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