Além de Frutuoso Gomes, Caicó também está sob alerta. Foram detectados morcegos infectados dentro da cidade. Contato com homem pode ser fatal.
Vacinação ainda é a mais eficaz forma de prevenção.
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A morte de um agricultor de 49 anos do município Frutuoso Gomes, na última sexta-feira (9), despertou a atenção de autoridades e da sociedade civil para a atual situação sanitária do Rio Grande do Norte quanto ao vírus da raiva. Após as primeiras coletas de material na área do sítio Candeia, onde Sebastião Pereira Nunes teria contraído o vírus, a suspeita dos técnicos foi confirmada: a região é um foco da doença.
A 349 quilômetros de Natal, Frutuoso Gomes concentra a maioria dos casos confirmados de animais mortos com diagnóstico de raiva, mas, segundo o médico veterinário da Vigilância Sanitária Ambiental da Secretaria Estadual de Saúde, Helvécio Martins, municípios próximos como Almino Afonso e Patu também estão na área de risco.
“Temos informações de que tem bovino morrendo na região. O alerta agora deve ser dado principalmente às pessoas que têm contato direto com esses animais e pessoas da zona rural como um todo”, destacou.
Helvécio vai além. Caicó também deve ficar em alerta. O Laboratório Central de Saúde Pública do Rio Grande do Norte (Lacen) divulgou, na tarde desta sexta-feira (16), diagnóstico positivo para exame de confirmação de vírus feito em dois morcegos vindos do centro do município.
De acordo com o médico veterinário, até o momento apenas a zona rural da cidade seridoense tinha confirmação de raiva. “Isso é gravíssimo porque significa que toda a cidade está dentro da zona de transmissão. Os morcegos estão doentes dentro do centro urbano, e o contato com o ser humano é bem mais provável do que na zona rural”, enfatizou.
Sem óbitos confirmados desde 1993, o RN conviveu durante 17 anos com a circulação silenciosa do vírus da raiva. Agora que o alerta foi dado, observa-se que nos últimos cinco anos a demanda por exames de confirmação de vírus, tanto em animais quanto em seres humanos, aumentou mais de 10 vezes.
Segundo dados do Lacen, em 2005 foram solicitados 30 exames. No ano passado, essa demanda foi de 309.
No entanto, apesar do alerta, Helvécio tranquiliza a população. “Neste momento, não temos risco de uma epidemia em seres humanos. Diferentemente de vírus que têm como vetor os mosquitos, por exemplo, a raiva tem barreira geográfica. Apesar disso, é preciso que as pessoas estejam bem informadas e procurem o serviço de saúde em caso de qualquer mordida de animais”, explicou.
O Vírus
O vírus da raiva é transmitido por mordidas e arranhaduras de mamíferos contaminados, como cachorros, gatos, morcegos e macacos.
É considerada uma das doenças mais graves de que se tem conhecimento. Sua mortalidade é de quase 100%. Apesar da vacina, ainda morrem anualmente aproximadamente 70.000 pessoas em todo o mundo.
“Para que se tenha uma ideia da gravidade dessa doença, apenas duas pessoas no mundo todo apresentaram os sintomas e não vieram a óbito: uma nos Estados Unidos e outra aqui em Pernambuco”, relata Helvécio Martins.
Esses três casos são fruto de um novo esquema de tratamento descrito pela primeira vez em 2005, que inclui um antiviral, um anestésico e um ansiolítico. Porém, apesar da cura, as sequelas são grandes.
Os animais domésticos, por serem vacinados periodicamente, são os que menos transmitem. O perigo maior são os animais silvestres.
Sintomas da raiva humana
A raiva humana é uma doença que ataca o sistema nervoso central, daí sua gravidade. A encefalite, inflamação do encéfalo, é o resultado final da instalação e multiplicação do vírus no sistema nervoso central. Os sintomas da raiva são todos decorrentes deste acometimento:
- Confusão
- Desorientação
- Agressividade
- Alucinações
- Dificuldade de deglutir
- Paralisia motora
- Espasmos
- Salivação excessiva
“A dormência é um dos primeiros sintomas. Ela acontece, primeiro, no local de inoculação do vírus e sua evolução acontece de forma progressiva, até atingir o cérebro”, descreveu o médico veterinário.
Uma vez iniciados os sintomas neurológicos, o paciente evolui para o óbito em 99,99% dos casos.
O período de incubação do vírus é de aproximadamente 40 dias. Ou seja, após a contaminação, esse é o período médio a partir de quando os sintomas começam a aparecer. “Mas, isso é muito relativo. Depende do sorotipo do vírus e do local de inoculação. Por isso, independente de qualquer coisa, a orientação é para que a pessoa procure imediatamente o serviço de saúde mais próximo”, alertou Helvécio.
E não é só a mordida do animal que transmite o vírus. O contato com qualquer secreção, ou a manipulação do animal morto também pode ser fatal.
“Daí a gravidade do caso de Caicó. Um morcego doente leva de 3 a 5 dias para morrer. Os animais estão morrendo dentro da cidade, e até dentro das casas, caindo no chão, em camas, em rede. O alerta deve ser dado”, concluiu
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