Candidato à reeleição e presidente estadual do Democratas (DEM), o senador José Agripino Maia não acredita que os recentes escândalos envolvendo filiados da legenda, como o governador do Distrito Federal, José Arruda, poderão prejudicar o pleito no Rio Grande do Norte. O parlamentar já aponta a tônica do discurso que usará para desvincular os escândalos de filiados do DEM da campanha no Rio Grande do Norte. “Eu tenho as armas do discurso na mão. Ninguém mais do que José Agripino trabalhou no sentido de mostrar que o DEM é um partido diferente quando se trata de escoimar a improbidade”, destaca. Se na argumentação do DEM Agripino mostrará distância do partido com os filiados denunciados, a estratégia eleitoral para a campanha ao Governo será outra. A legenda que terá como candidata a senadora Rosalba Cialini aposta na estratégia de discursar enfatizando que a eleição do vice-governador Iberê Ferreira é a continuidade do Governo Wilma de Faria. “A eleição de Iberê é o terceiro mandato da governadora Wilma”, afirma o senador José Agripino Maia. O senador não acredita que o lançamento da candidatura do ex-prefeito de Natal, Carlos Eduardo poderá interferir no desempenho da candidata do DEM e até evitar a polarização do pleito. Para ele, Iberê Ferreira e Carlos Eduardo dividirão o mesmo nicho de votos, já Rosalba trabalhará no foco da oposição ao Governo Wilma e da “mudança”. Já no pleito ao Senado, o líder do DEM aposta que o determinante será a comparação da história política dos candidatos: “Será o perfil de candidatura, credibilidade, de folha de serviço. Mais do que nunca, o eleitor votará em ficha limpa, em credibilidade da palavra, em quem promete e faz”. Sobre o pleito 2010, as articulações partidárias e as candidaturas, José Agripino Maia concedeu a seguinte entrevista a TRIBUNA DO NORTE:
A “fotografia” que se mostra hoje é uma eleição com três candidaturas ao Governo: da senadora Rosalba Ciarlini (DEM), do ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo (PDT) e a do vice-governador Iberê Ferreira (PSB), e os senadores José Agripino Maia (DEM) e Garibaldi Filho (PMDB) e a governadora Wilma de Faria (PSB) para o Senado. Esse será mesmo o cenário para o pleito de outubro? O senhor espera surpresa?
Não posso assegurar que Carlos Eduardo e Iberê irão se manter candidatos. O que acho é que o DEM que tem a candidatura de Rosalba lançada ou anunciada com Robinson como vice, pelo fato de ser a ponteira e estar bem na frente (nas pesquisas eleitorais), é uma candidatura que entendo como posta. Eu não sei se as outras candidaturas são reversíveis ou não. Uma coisa é certa: a base do governo já tem duas candidaturas e já está bipartida. Com um detalhe: uma que tem expressão na Capital, que é a de Carlos Eduardo, e outra que tem a expressão da máquina do governo no Interior, que é a de Iberê. Uma trava o crescimento da outra. Carlos Eduardo trava o crescimento de Iberê na Capital e Iberê trava o crescimento de Carlos Eduardo no Interior. O que vai dar em matéria de crescimento de pesquisa daqui até as convenções eu não sei. Também não sei que tipo de desestímulo recíproco um vai dar sobre o outro. Para o Senado minha candidatura, minha postulação é para ficar. O que sinto do senador Garibaldi idem. Não sei qual a real disposição da governadora Wilma. Ouço falar que sim, se for que o seja, e que vamos os três, com mais os outros candidatos.
Qual o efeito que terá a candidatura de Carlos Eduardo nesse cenário que apontava para polarização?
Continuará a haver a polarização porque são duas candidaturas da base governista: uma mais expressiva na Capital e outra mais expressiva no Interior. O cesto de voto que um e outro vão disputar é o cesto de voto da base governista. O nicho de votos de Rosalba é o nicho de votos da oposição e do eleitor que quer mudar o estado de coisas que está posto. Queiram ou não, Iberê é o próprio governo de Wilma. Carlos Eduardo foi o prefeito de Wilma. Então são pessoas ligadas ao esquema Wilma. Eles vão disputar os votos de uma mesma tendência, de um mesmo cesto. Rosalba não. Ela é a candidata de oposição, proposta nova. Ela (Rosalba) pegará o eleitor descontente e flutuante.
O senhor dividiu a análise entre o eleitorado da capital e o do interior. O que conta mais para uma eleição?
Todos eles contam. Todos são eleitorados importantes e todos são politizados. Apenas um candidato tem expressão proeminente na capital e outro que tem potencial para o interior, pelo fato de que conta com a máquina. Claro que a Capital tem 25% do eleitorado. Evidente que a capital exerce forte influência sobre a Grande Natal, que chega a 40% do eleitorado. De qualquer maneira o interior é a maior parte do eleitorado.
Rosalba Ciarlini para o governo, Robinson Faria (PMN) para vice, Garibaldi Filho e José Agripino para o Senado. A chapa está completa?
Não. Faltam a composição com o PV e o PSDB que é o que nós queremos. O PSDB pleiteia uma suplência do Senado, é um parceiro que seguramente estará conosco na disputa presidencial. Esperamos poder contar com o PV. Quando eu digo “nós” é a chapa inteira, é Rosalba, José Agripino e Garibaldi. Espero poder contar com o apoio do PV que tem exercido a interlocução do diálogo conosco através de Micarla. Ao PV claro que a suplência de senador será naturalmente oferecida, ou de um (José Agripino) ou de outro (Garibaldi Filho), mas a participação no futuro governo idem. Até porque pretendemos fazer um governo com a composição dos diversos partidos que formem aliança.
Esses dois partidos que o senhor citou (PSDB e PV) serão acomodados nas suplências de quem?
Depende. O PMDB concorda em que o partido faça coligação na majoritária com o DEM? Se permitir, o PSDB pode indicar o suplente de Garibaldi Filho. Se não permitir, o PV poderá indicar o suplente de Garibaldi Filho. A definição das suplências corre mais ou menos nesse tipo de condicionante. Não temos amarras. Na minha candidatura o DEM está aberto a coligação tanto com o PV como com o PSDB. O mesmo não diria do PMDB que pode estabelecer condições para aliança do partido com partidos que não sejam antagônicos na eleição presidencial.
Nomes postos para os suplentes?
Isso caberá aos partidos, ao PSDB e PV.
O senhor não irá interferir na escolha dos suplentes?
Não pretendo. Eu tenho um pensamento, quando apoiei Micarla trabalhei para fortalecer a chapa dela, abri mão da indicação do vice, fazendo com que Paulinho Freire, vindo do PP, trouxesse um partido inteiro. Quem quer ganhar a eleição tem que contribuir oferecendo as melhores condições de vitória, tanto para vitória de Garibaldi com melhor suplente, como a de José Agripino com melhor suplente.
Na disputa para o Senado serão três ex-governadores, cada um com dois mandatos, três ex-prefeitos de Natal. O que será determinante nessa eleição para o Senado?
Será o perfil de candidatura, credibilidade, de folha de serviço. Mais do que nunca, o eleitor votará em ficha limpa, em credibilidade da palavra, em quem promete e faz, em quem tem passado limpo, em quem não tem comprometimento com a improbidade e quem tem proposta e atuação que o povo aprove. Acho que isso será fundamental. Na eleição de Garibaldi, de Wilma e José Agripino serão apreciadas a qualidade da palavra dos três, se eles o que falam fazem, a ficha dos três. No pleito para o governo será uma avaliação sobre por onde os candidatos passaram e do que foram capazes. Isso será muito importante. Onde Rosalba esteve? Esteve na Prefeitura de Mossoró e no Senado. Onde Iberê esteve? Esteve na Câmara Federal, na Assembleia Legislativa, como secretário de Estado e agora como vice-governador e participa intrinsecamente do governo, desde o começo da administração Wilma. As pessoas acham que será bom o terceiro governo Wilma? Iberê é o terceiro governo Wilma. As pessoas irão avaliar porque ninguém consegue diferenciar Wilma de um vice-governador que é secretário. Não é diferenciar um governador de um vice-governador, ele é um vice-governador secretário, que participa do dia-dia do governo em tudo, da educação, da saúde, segurança. Ele (Iberê Ferreira) dá opinião em tudo. E Carlos Eduardo será avaliado como deputado e como prefeito de Natal.
Essa é a eleição mais difícil da sua carreira política?
Não. Honesta e sinceramente, não. Eu disputo esta eleição com absoluta tranqüilidade de quem está colocando para avaliação do eleitorado uma longa vida pública. Como acho que eu tenho o que falar, tenho o que dizer, essa não será a eleição mais difícil da minha vida.
Há possibilidade de o senhor aceitar ser candidato a vice-presidente na chapa de José Serra (PSDB)?
Nenhuma chance. Não serei candidato a vice-presidente e posso dizer a você, sem medo de errar: desta vez, se eu quisesse, seria unanimidade no meu partido. Isso me foi dito pelo meu partido, mas já disse que agora eu não posso ser (candidato a vice-presidente).
Por que o senhor não pode ser candidato a vice-presidente?
Porque eu montei um projeto que reúne o senador Garibaldi Alves, o deputado Robinson Faria, tem uma intérprete com a qualidade de Rosalba, reúne partidos como o PSDB e o PV. Isso tudo foi construído em grande medida pela minha ação tenaz. Na hora que me retiro da disputa pode haver perturbação séria na conclusão desse projeto.
O vice-governador Iberê terá seis meses de administração antes da eleição. É possível ele reverter a situação atual?
Para ser acreditado e reverter o quadro ele terá de explicar inicialmente uma coisa: por que ele não fez isso o tempo todo? Se é que ele vai conseguir marcar os gols no governo, por que ele não fez isso antes quando era vice-governador? Eu não acredito porque não se iludam, Iberê é a continuação do governo de Wilma, a não ser que ele queira posar de contestador ao governo de Wilma. Ele pode até querer, mas as pessoas irão se questionar: por que só agora? Iberê é uma pessoa que não é só vice-governador, ele é secretário, ele tem opinião, tem convicções. Ele terá oito meses, por que ele não propôs coisas diferentes do que está prometendo? Por que não realizou enquanto foi vice-governador e secretário? O governo é o mesmo, é um só. Tanto é que ele é candidato a governador no exercício do cargo e não poderá mais ser reeleito. O nível de comprometimento de Iberê é institucional. Ele é o próprio Governo.
O senhor é o líder da oposição no Senado. E é candidato a reeleição em um Estado onde o presidente Lula é aprovado com mais de 80%. Isso torna sua eleição mais difícil?
Não sou candidato contra Lula. Sou candidato a senador para ser votado pelo povo do Rio Grande do Norte. É preciso que se compreenda que em democracia tem que haver espaço para Governo e Oposição, do contrário o regime se torna totalitário, você não terá quem defenda a sociedade na hora da injustiça. O que faço é combater os erros do governo. Eu não combato Lula pessoalmente, muito menos o governo dele. Combato os erros do governo dele. Eu já reconheci inúmeras vezes os feitos positivos do governo dele. As pessoas compreendem esse papel e entendem que eu faço com decência.
O senhor está amenizando o discurso contra o Governo Lula? O senhor reconhece essa mudança no seu discurso?
De maneira alguma. Não reconheço mesmo. Eu sou oposição ao Governo de Wilma e ao Governo Lula. Oposição tem o papel de fazer a crítica, não de destruir. Não tenho feito nenhuma crítica mais ácida ao Governo Wilma do que ao Governo Lula.
Como o senhor avalia essas duas administrações: Wilma e Lula?
Wilma teve dois governos. No primeiro ela tinha uma avaliação positiva, tanto é que foi reeleita. Ela tinha um nível de credibilidade que não é o nível de hoje. O governo de Wilma hoje, pelo que ouço, frustrou expectativas. Há uma obra que marca? Há, a ponte. E os feitos que puxam para baixo o governo? As promessas não cumpridas, o desempenho da segurança, da saúde, a qualidade da educação, as estradas esburacadas, a infraestrutura deficiente. Tudo isso depõe contra a governadora que prometeu e não cumpriu. O presidente Lula? Eu aplaudo, evidentemente, o Bolsa Família, que é produto da Bolsa Escola que vem de trás. Ele tem o mérito de ter agregado mais recursos (no Bolsa Família), aumentado o programa. Eu aplaudo a política de distribuição de renda pelo aumento do salário mínimo. Eu aplaudo a política de multiplicação de escolas técnicas federais. Agora combato a carga tributária que o governo Lula leva a efeito; seguramente é uma das três maiores cargas do mundo. Combato a qualidade do gasto público. Esse é um governo que não investe. A obra de duplicação da estrada de Natal a João Pessoa (BR-101) está praticamente parada, não anda. O Aeroporto de São Gonçalo não anda. Esse tipo de coisa não posso deixar e não vou abrir mão do direito a crítica, no sentido que melhore, que mude de atitude em benefício do cidadão potiguar e brasileiro.
Sua estratégia de campanha será chapa fechada?
O voto que vou pedir pelo Estado afora será o voto para os três: Rosalba, Garibaldi e para mim. O palanque que vou freqüentar é o palanque da governadora Rosalba. Pode até ser que em algum lugar o líder político dono do palanque vote em Rosalba e não em mim, mas estarei nesse palanque para garantir com minha presença o meu apoio a candidata a governador. Onde eu chegar, tenha os apoios onde tiver, vou pedir e me empenhar em voto para os três. Vou defender a chapa fechada e o Estado todo sabe do esforço que estou fazendo para incorporar o PV a aliança com Rosalba e Garibaldi.
Como está a conversa para fechar o apoio de Micarla de Sousa a essa chapa?
Eu já fiz as demandas que me cabiam, os encontros que poderia promover. As conversas agora estão se desenrolando no âmbito da relação entre Garibaldi e Micarla.
Há quase dois anos o presidente Lula veio ao Rio Grande do Norte e disse que faria tudo para derrotar o senhor em 2010. O senhor lembra desse fato?
Eu me lembro sim e me lembro do resultado da eleição. O eleitor do Rio Grande do Norte vota em quem quer e não em quem manda votar.
Os recentes escândalos envolvendo os filiados do DEM no Distrito Federal poderão refletir na eleição do DEM no Estado?
Eu tenho as armas do discurso na mão. Ninguém mais do que José Agripino trabalhou no sentido de mostrar que o DEM é um partido diferente quando se trata de escoimar a improbidade. No primeiro momento frente ao escândalo Arruda, assinei com o senador Demóstenes Torres e o deputado Ronaldo Caiado, o pedido de expulsão em rito sumário. Foi pela nossa ação que a Executiva do partido tomou a deliberação de levar Arruda a ser expulso, de levar Paulo Otávio e Leonardo Prudente a se desfiliarem e levar a auto-dissolução do diretório regional.
O senhor não teme reflexo desse escândalo?
Pelo contrário. Eu vou é desafiar a outros partidos que tiveram acusação semelhante e não tiveram a coragem de fazer o que nós fizemos. Fizemos história partidária, mostramos que na crise sabemos nos comportar, não convivemos nem com improbidade e muito menos com impunidade. Enquanto os petistas envolvidos no escândalo dos aloprados, do mensalão são recebidos aos abraços, nossos envolvidos são expulsos, defenestrados e punidos com a perda da filiação partidária. Expulsamos e aplicamos a pena da inelegibilidade.
O governador do Distrito Federal, José Arruda, esteve há pouco mais de três meses no Estado participando da festa em comemoração aos 30 anos de vida pública do senhor. E no discurso (Arruda) agradeceu a segunda chance que o senhor havia dado a ele, depois do escândalo da quebra do sigilo do painel do Senado. O senhor daria a terceira chance ao governador Arruda?
Não mais. O Brasil inteiro entendeu. No caso do painel ele não tinha praticado corrupção com dinheiro público. Ele tinha mentido e tinha produzido uma fraude, não que tivesse mudado o resultado, mas tinha metido a mão em algo que não poderia ser objeto de bisbilhotice. Não foi prática de improbidade. As cenas que o Brasil assistiu mostram corrupção explícita. É imperdoável na política. Quem não sente a dor do dinheiro público não merece estar na vida pública. Então, são coisas diferentes. Não teria mais a condição de oferecer a ele (José Arruda) o cafezinho que ofereci no passado.
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