A Operação Pipa atende a 50 municípios potiguares levando água potável a cerca de 2 mil comunidades que sofrem com a estiagem. Mas o programa está interrompido desde o início de maio, segundo o Exército Brasileiro, devido à falta do repasse de recursos pelo Ministério da Integração Nacional, que custeia as ações em todo o país. Só no município de Serrinha, região agreste potiguar, o programa deixou de atender 238 famílias cadastradas, distribuídas em 32 comunidades rurais.
Emanuel AmaralOperação Pipa atende 50 municípios do RN, mas está parado
O vice-prefeito do município, Genilson Souza, diz que a situação é preocupante, e que esta é a segunda interrupção do ano. A primeira foi em 19 de março, quando o Exército teria alegado também que o repasse da verba atrasou. “Sempre fica nisso, o tempo passa e as pessoas prejudicadas, pior ainda com esse inverno instável, sem chuva suficiente nem para abastecer o reservatório”, comenta.
Ele faz alusão ao termo “seca verde”, ou seja, quando as chuvas são suficientes apenas para manter a paisagem verde. “Água para acumular no reservatório não tem”. Desde janeiro deste ano, Serrinha acumulou 288,7 milímetros de chuva, enquanto Boa Saúde teve apenas 102 milímetros, conforme indicam os medidores da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado (Emparn).
A estação chuvosa para a região agreste, onde está localizada boa parte dos municípios atendidos pelo programa, começa este mês, segundo o serviço de meteorologia da Emparn. Mas enquanto as chuvas não chegam em quantidade suficiente para encher os açudes, a alternativa continua sendo recorrer ao programa do Governo Federal. E enfrentar as dificuldades inerentes à transição de uma estação chuvosa de um ano para o outro.
Na mesma região, municípios como Arês (521,8mm) e Canguaretama (576mm) o acumulado de chuvas é bem superior àqueles onde a chuva não supriu ainda a necessidade básica — acúmulo de água para consumo humano. Entre os municípios atendidos pelo programa, há aqueles localizados no semiárido, onde a estação chuvosa praticamente encerrou, mas não foi suficiente sequer para encher os reservatórios usados como fonte de água potável. É o caso de Apodi (176mm), Caraúbas (303mm), Jardim do Seridó (314mm) e Currais Novos (111,7mm).
Cada cidade participante envia para o Exército, no mês anterior, o cronograma de famílias que receberão água no mês seguinte. O relatório de maio foi entregue por ele próprio, que é presidente da Comissão de defesa Civil municipal, dia 29 de abril. “Passamos do dia 25 e nada de água, resta saber se teremos em junho. São cerca de 240 a 250 distribuições de água todo mês”, disse.
Ele afirma que assim como as demais prefeituras da região, Serrinha não têm condições orçamentárias de suprir o desfalque do programa. “Alguns prefeitos fazem sacrifício uma vez ou outra para tentar abastecer as famílias em situação mais grave, mas a verdade é que a situação, no geral, está difícil”. Os beneficiados geralmente são pessoas de baixa renda, que vivem praticamente da agricultura e de benefícios de programas assistenciais como o Bolsa Família.
“Quando a coisa aperta, pedem ao poder público”, diz. Cada cadastrado deveria ter recebido oito mil litros, volume deve ser reposto, no máximo, a cada dois meses. A região tem açudes, mas poucos que disponibilizem água potável. Genilson comenta que as comunidades que ficam próximas à rodovia conseguem se manter com a adutora do Bonfim, entre elas Barreta, Nova Aliança e Boa Vista.
Exército só libera serviço com verba disponibilizada
Um dos “pipeiros” que presta serviço ao Exército Brasileiro dentro da Operação Pipa, Márcio Crésio, atua há cinco anos no ramo. E diz que antes de 2010 nunca havia ocorrido o atraso no repasse. “O pagamento é feito geralmente 30 dias após a prestação do serviço”, explicou.
Porém, o Exército só autoriza a distribuição de água quando o dinheiro repassado pelo Governo Federal está garantido na conta bancária. A região de Serrinha é abastecida pelos carros pipa com água de um poço tubular localizado no município de Brejinho. O valor de cada viagem depende da distância desse município até o destino final, variando entre R$100,00 e R$250,00.
O comando da 7ª Brigada de Infantaria Motorizada do Exército Brasileiro, que realiza o serviço na região de Serrinha, confirmou a suspensão da operação. A falta de chuvas em quantidade suficiente em vários municípios no interior potiguar tem provocado preocupação para as entidades do setor rural do Rio Grande do Norte.
A incidência de um “inverno de normal a abaixo da média para a região do semiárido do Rio Grande do Norte, prevista pelo serviço de meteorologia da Emparn desde fevereiro deste ano se configurou.
Adutora
Segundo informações do site da Secretaria de Recursos Hídricos e Meio Ambiente do Estado (Semarh), o Sistema Adutor Agreste/Trairi/Potengi atende municípios sem mananciais de qualidade e quantidade que permitam implantar obras de abastecimento. O sistema utiliza águas do Sistema Lacustre Bonfim, localizado no município de Nísia Floresta, de onde é feita a captação. A adutora se destina ao abastecimento humano e dessedentação animal de 23 sedes municipais, com 53 comunidades localizadas ao longo do seu traçado, entre elas Monte Alegre, Lagoa de Pedras, Lagoa Salgada, Boa Saúde, Serra Caiada, Tangará, São José de Campestre, Lagoa D´Anta, Passa e Fica, Serrinha e Senador Elói de Souza.
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