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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

MÉDICOS REJEITAM PEDIDO DE WILMA E GREVE COMEÇA HOJE

O Sindicato dos Médicos do RN (Sinmed) não atendeu o pedido de mais tempo feito ontem pela governadora Wilma de Faria e manteve para hoje o início da greve da categoria para os 26 hospitais do Estado, envolvendo 1/3 de todos os 1.600 profissionais de todas as especialidades.

Médicos pedem mudanças no plano de cargos e carreiras e reavaliação da atual tabela de remuneração

“Devemos sentir a paralisação com mais intensidade agora em Natal e Mossoró”, avaliou ontem o presidente do Sinmed, Geraldo Ferreira. “Mas nunca vi a classe tão mobilizada como este ano”, acrescentou.

Ontem à tarde, o secretário-adjunto da Sesap, João Albérico Fernandes da Rocha, convocou uma entrevista coletiva de imprensa na qual chegou a afirmar que a greve dos médicos estava suspensa provisoriamente.

Logo pela manhã, ele participou de um encontro na casa da governadora Wilma de Faria, com a presença do secretário George Antunes, na qual a ordem expressa era “tranquilizar a população, especialmente nesses dias que antecedem o Carnaval”, afirmou Rocha.

Segundo ele, ainda da casa da governadora, foi feita uma ligação para o presidente do Sinmed com o objetivo de ganhar tempo em relação ao início da greve. “Tivemos boa receptividade e o Dr. Geraldo foi compreensivo em relação à necessidade de estudarmos melhor uma contraproposta do Estado”, afirmou o secretário-adjunto.

“Estamos abertos a colaborar com a governadora, mas eu jamais poderia reverter uma decisão tirada em assembleia”, disse ontem Geraldo Ferreira.

Entre outras reivindicações, os médicos querem mudanças no plano de cargos e carreiras, a reavaliação da atual tabela de remuneração médica, além da revisão dos valores sobre produtividade.

“Chegamos a um ponto que há uma verdadeira epidemia de problemas de pele entre os profissionais transmitidos por lençóis nas áreas de repousos médicos nos hospitais do Estado”, acrescentou Geraldo Ferreira.

Ontem à tarde, durante a coletiva de imprensa convocada pela Sesap sem a presença do titular da pasta, o secretário-adjunto fez o que pôde para mostrar a preocupação da governadora com o impacto sobre a população de uma paralisação neste momento.

“Compreendemos que os médicos têm toda a razão sob muitos aspectos, mas não poderíamos oferecer uma contraproposta sem antes realizar um estudo profundo de impacto financeiro sobre as contas do Estado”, declarou Fernandes da Rocha.

Hoje, os secretários estaduais da Saúde, Planejamento e Administração estarão reunidos para dar partida à analise do que será a contraproposta oficial, mas a resposta que os médicos desejam só virá depois do Carnaval, antecipou Fernandes da Rocha.

“O estado não pode mais responder por atribuições dos municípios relacionadas especialmente à baixa e média complexidade”, analisou o secretário-adjunto.

Ontem, o presidente do Sinmed afirmou que a população não precisará se sentir ameaçada pela paralisação dos médicos. “A regra será de dois médicos parados para um em atividade – mas isso poderá ser alterado em caso de emergência”, declarou Geraldo Ferreira. Já com relação às cirurgias eletivas, Ferreira afirmou que todas estão “canceladas a partir de hoje”.

Como em toda a paralisação envolvendo um serviço essencial, a greve dos médicos está repleta de subjetivismo. Ainda não se sabe exatamente qual será a adesão dos profissionais e em que medida os serviços serão afetados.

Segundo o presidente do Sinmed, assessores da Sesap já estiveram mais de uma vez nos corredores do Hospital Walfredo Gurgel para saber da receptividade dos médicos em relação à greve. “Na minha opinião, será muito grande”, prometeu.

Paralisação prejudica escala dos plantões

A paralisação dos clínicos se mantém sem muitos avanços. Segundo o chefe da clínica Cássio de Castro, com a redução do número de atendimento desde o último dia 15 e o mandado judicial para a retirada das macas dos corredores da unidade, o espaço destinado à clínica médica foi transformado em enfermaria, que chega abrigar até 14 macas à espera por leito, em área que cabe apenas três.

“A direção está obcecada por corredores livres e sobrecarrega outras áreas, prejudicando o atendimento de urgência que está sendo mantido, com escala reduzida”, revela Cássio de Castro. Segundo ele, além da transferência de pacientes, nenhuma outra reivindicação, como aumento no número de plantonistas e o reajuste salarial, para R$ 5 mil para jornada de 40 horas semanais, foi atendida. “Ingressamos na luta da categoria e a operação tartaruga, com um médico por plantão continua”, observa.

No hospital Santa Catarina, na zona Norte, a greve geral só oficializa uma situação corriqueira. Segundo o chefe da clínica Reinaldo Carlos Lima é comum o plantão funcionar com 30%, ou seja, apenas um dos três médicos previstos na escala. A clínica médica realiza cerca de 10 mil atendimentos por mês, dos quais a maior parte é de casos que deveriam ser atendidos na rede básica. “É um médico para dar conta de cobrir o pronto socorro, as intercorrências na enfermaria e agora a sala de observação. São 20 clínicos no Hospital, quando o mínimo deveria ser 30. O grande sacrifício é ambulatorial, 90% dos casos não são de urgência e entravam, gerando essa superlotação”, afirma.

À porta dos consultórios, pessoas de todas as idades se amontoavam durante a espera. A dona de casa Vitória Régia Florência, 42, que acompanhava o marido que se queixava de gripe e dor no peito, reconhece que o caso deveria ser tratado no posto de saúde, de Pajuçara. “Não tem médico lá há mais de dois meses e a gente corre para cá, precisa do atendimento. Se parar geral muita gente pode ficar em estado grave”, observa.

O vigilante Paulo César também disse “vir direto” com a esposa Maria da Penha da Silva, 55, que desde a última quinta-feira sofreu um pequeno acidente no ônibus e não encontrava médico na unidade de saúde de Santarém. “é melhor esperar mais do que nem ser atendido. O problema dela está piorando e vim para cá”, disse.

Cooperativa ameaça com paralisação

O pagamento do convênio de cirurgias eletivas para as cooperativas dos médicos, anestesistas e cirurgia pediátrica está atrasado pela Prefeitura de Natal. Segundo o presidente da Cooperativa dos Médicos, que reúne 17 especialidades, uma assembléia irá definir essa semana uma possível paralisação. O convênio é pago com recursos da Prefeitura, do Estado e do SUS. Os cooperados recebem 100% a mais em cima da tabela do SUS, como complemento. O Estado é responsável por 60% desse complemento, enquanto o Município é responsável por 40%, justamente o percentual que está em atraso. No caso da Coopmed, a parcela da Prefeitura não é paga desde setembro. “São quatro meses de atraso e já caminhamos para o quinto”, diz o presidente da Coopmed, Fernando Pinto. Não há previsão para o pagamento, segundo a Coopmed.


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