Problemas vocais estão entre as principais causas de afastamento de professores das salas de aula de todo o país. O uso excessivo da voz, somado a longas jornadas de trabalho, geram condições favoráveis ao aparecimento de doenças, principalmente, quando não se tem os cuidados necessários no dia a dia. E sintomas simples, como uma rouquidão ou cansaço, podem evoluir para sérias alterações vocais, que exigirão tratamentos delicados, como cirurgias e terapia para reabilitação, e conseqüentemente tempo e repouso deste ocupado profissional.
Alerta a essa questão, o projeto Caravana da Saúde Escolar, desenvolvido através de uma parceria entre a Secretaria Municipal de Saúde de Natal (SMS), Secretaria Municipal de Educação (SME) e o Instituto Pedro Cavalcanti (IPC) realiza, desde 2009, visitas anuais a todas as instituições de ensino fundamental e médio da rede municipal de Natal, para a realização de orientações e exames vocais com os docentes.
Cada visita dura em média uma semana e, nela, todos os professores passam por consultas com fonoaudiólogas e otorrinolaringologistas, para a avaliação da qualidade vocal e presença de lesões, por meio dos exames de espectrografia vocal e laringoscopia. Além disso, são distribuídas cartilhas educativas, que mostram exemplos de mau uso da voz e citam estratégias de como evitar o desgaste vocal em sala de aula.
“Na primeira vinda do projeto, meus exames apresentaram uma rouquidão e cansaço vocal e o pessoal me explicou que era justamente devido ao uso excessivo da voz e me orientou sobre a importância de adoção de hábitos simples, para a prevenção de problemas, como a hidratação constante, com água em temperatura ambiente, a até a escolha da roupa adequada para o trabalho”, conta a professora e coordenadora da Escola Municipal Josefa Botelho, Gerlane Fernandes da Silva.
“Muitas vezes o professor até já leu sobre o tema, mas não dá a devida importância e, quando tem a orientação de um especialista, presta mais atenção. Então, é muito bom que projetos como esse sejam realizados permanentemente”, destaca a professora da Escola Municipal Antônio Campos, Fabiana Silva de Barros.
Outra preocupação da Caravana é com o nível de ruído ambiental nas escolas, que pode ter efeitos diretos na saúde de professores e alunos. Para isso, o projeto realiza pareceres audiológicos em cada umas das instituições visitadas, através de um aparelho chamado decibelímetro. Nas medições, feitas em situações reais de aula, são observadas questões, como a presença de janelas, ventiladores e saídas de ventilação nas salas. Todas as análises são organizadas em forma de relatórios, para o possível uso em planejamentos, por parte de gestores, e para pesquisas na área de saúde.
“Quanto maior o ruído, maior será a dificuldade do aluno em entender as explicações e o esforço vocal feito pelo professor. Fazemos os exames e a medição é um complemento, já que servirá de registro de informações e até de direcionamento para o que deve ser abordado nas orientações”, destaca a fonoaudióloga Lilian Arruda.
Os atendimentos também são estendidos à equipe de apoio, como coordenadores, diretores, vigias, auxiliares de limpeza e merendeiras, que não estão em sala de aula, mas também utilizam bastante a voz no contato diário com as crianças. Todos os procedimentos são oferecidos no próprio espaço das escolas, facilitando o acesso aos especialistas e evitando que os funcionários tenham que se ausentar das atividades, para cuidar da saúde vocal.
E o objetivo é não só a prevenção e identificação precoce, mas a cura e tratamento de problemas. Por isso, no caso do diagnóstico de alterações vocais, os pacientes recebem o encaminhamento para a realização de procedimentos complementares na sede do Instituto Pedro Cavalcanti e, quando necessário, também para cirurgias e acompanhamento.
Saúde dos alunos
O projeto prevê também a avaliação audiológica e visual dos estudantes, com o intuito de resgatar a diminuição dos índices de evasão e repetência escolar na capital. Às crianças e adolescentes matriculadas nas instituições visitadas, são oferecidas consultas com fonoaudiólogas, otorrinolaringologistas e oftalmologistas e realização de exames como audiometria, impedanciometria, otoscopia, auto-refração e acuidade visual.
Com quase dois anos de existência, a Caravana da Saúde Escolar já realizou mais de 17 mil atendimentos. Na próxima quarta-feira (31), o projeto estará na Escola Municipal Santa Catarina, 18° instituição visitada somente neste ano de 2011.
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