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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

RN não tem laboratório para isolar superbactéria KCP

image Por isso, ainda não é possível detectar se ela já está presente no Estado. Em Brasília, onde surgiram primeiros casos, foram registradas 18 mortes.

O Rio Grande do Norte ainda não conta com laboratório de biologia molecular, que seria necessário para isolar a superbactéria KCP. A informação é do presidente da Sociedade Norte Riograndense de Infectologia, Ênio Lacerda. De acordo com ele, a maior atenção em torno da KPC deve servir para alertar a classe política sobre a necessidade de montar um centro de análise do tipo.

O infectologista comentou sobre o assunto durante entrevista à jornalista Delma Lopes para o Jornal 96 (96FM) desta quarta-feira (27). Segundo ele, para detectar esta bactéria, é necessário empregar técnicas utilizadas na análise de material genético, o que ainda não pode ser feito aqui. Apesar disso, a contaminação pela superbactéria tem sido alvo das preocupações das autoridades ligadas à saúde.

Diante disso, foi criada pela Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) o Comitê de Enfrentamento de Crises. Depois de se reunirem na semana passada para deliberar sobre o assunto, já foi agendado novo encontro – este para a próxima semana.

Nestas discussões, estão sendo decididas as diretrizes para tratamento dos pacientes internados nos hospitais. Eles, informa Lacerda, são os mais suscetíveis a terem complicações no quadro clínico após infecção bacteriana. Os próprios antibióticos utilizados atacam o corpo do enfermo, debilitando-o ainda mais.

"Se detectada infecção bacteriana severa em algum dos pacientes, o ideal é isolá-lo", o infectologista orienta. Caso isso não seja feito, há possibilidade de infectar outros internos. De acordo com Lacerda, isto se dá porque, no organismo debilitado, as bactérias encontram um caminho para se instalar e atacar ainda mais o corpo.

Além disso, outro ponto que deve ser pautado a partir de agora é a ativação das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIHs). "O problema é que algumas dessas comissões ficam só no papel. Se elas fossem atuantes, as infecções ficariam dentro do aceitável", argumenta o médico. Nas unidades de saúde potiguares, Lacerda indica que as CCIHs, juntamente com a assistência epidemiológica, têm sido fundamentais para manter baixos os índices de infecção hospitalar.

Diante disso, Ênio Lacerda pediu calma em relação à proliferação da KPC. Ele estima que o alarde em torno da superbactéria tenha sido causado pelo início das infecções, que foi registrada em Brasília. “Você tem um caso mais sério de agravo na saúde ali do lado do Ministério da Saúde, por isso tudo ganha mais visibilidade. A mesma coisa ocorreu com a febre amarela, quando havia suspeita de infecção de alguns sagüis na capital do Brasil”.

Conforme dito por Lacerda, já foram contabilizadas 18 mortes pela superbactéria em todo o país, com casos especialmente em Brasília e em São Paulo. No último domingo (24), o tema foi abordado pelo ministro da saúde, José Gomes Temporão, durante encontro na capital paulista sobre a definição de diretrizes para minimizar o risco cardíaco em pacientes em tratamento contra o câncer.

Segundo o ministro, com a adoção de medidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), “a situação vai ficar sob controle”. Entre as ações da agência, ele destacou a norma que determina a retenção da receita médica na compra de antibióticos.

Para Lacerda, a medida vem para garantir uma recomendação antiga dos infectologistas. Concordando com Temporão, ele diz que isto vai extinguir a automedicação e uso indiscriminado ou abusivo, tido como um problema sério.

Além disso, o ministro lembrou a importância de procedimentos simples de higiene, como lavar as mãos, que diminuem muito o risco de contágio pela bactéria. Temporão destacou ainda que outro ponto fundamental no combate à bactéria é o cuidado no registros dos casos, para melhorar o embasamento de pesquisas sobre o assunto.

KPC

A superbactéria KPC é a mutação genética de uma bactéria que existe em nosso corpo e que, em geral, é inofensiva. Após alteração sofrida em hospitais, no entanto, se tornou resistente à maioria dos antibióticos que deveriam destrui-la. Os antimicrobianos destroem as bactérias normais, mas as mutantes sobrevivem e se reproduzem.

Segundo informado pelo infectologista Ênio Lacerda, bactérias com estas características vinham sendo notificadas desde a década de 90. “Existe bactéria resistente desde a criação da penicilina, o primeiro antibiótico”, explica. A situação deflagrada agora, então, serve para atentar para o uso indiscriminado de antibacterianos feito pela população.

“Ainda não é possível isolar a KPC aqui no estado, mas já temos outros tipos isolados”, lembra Lacerda. Para que seja avaliada a situação de infecção pela superbactéria no RN, é preciso dispor de vigilância específica ou de laboratório referenciado para enviar o material para outro centro de análise.

96fm

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